Ferramenta que calcula prejuízos da atividade

14/06/2021
A plataforma leva em consideração o desmatamento provocado, o assoreamento dos rios e as consequências da contaminação pelo mercúrio.

O Ministério Público Federal (MPF) e a organização não-governamental Conservação Estratégica (CSF-Brasil) lançaram a Calculadora de Impactos de Garimpo Ilegal de Ouro, uma nova ferramenta que calcula o valor monetário dos prejuízos gerados pela atividade ilegal na floresta. A plataforma leva em consideração o desmatamento provocado, o assoreamento dos rios e as consequências da contaminação pelo mercúrio na natureza e na saúde humana. 

O cálculo é feito por meio de uma combinação de critérios, como a quantidade de ouro extraída, o tipo de garimpo utilizado (aluvião, balsa ou poço), o local da extração, a área e as populações afetadas, entre outros. Caso o usuário não tenha todos os dados, a calculadora utiliza parâmetros médios das formas de garimpo ilegal mais comuns já detectadas na região. A iniciativa é fruto de parceria entre a Força Tarefa Amazônia do MPF, a Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise da Procuradoria-Geral da República (Sppea/PGR) e a CSF. 

No lançamento da calculadora, a procuradora da República no Amazonas Ana Carolina Haliuc Bragança disse que a plataforma vai ajudar o MPF e outros órgãos de controle a definir, de forma mais precisa, qual dano deve ser imputado ao agente econômico pela utilização do ouro ilegal em sua cadeia produtiva. “A ferramenta nos ajuda a entender o real impacto do garimpo ilegal sobre o meio ambiente e as comunidades amazônicas. Confere mais segurança ao cálculo dos valores a serem requeridos na Justiça, os quais terão embasamento científico, refletindo a complexidade do fenômeno”, destacou. A calculadora também vai contribuir para a definição de políticas públicas de prevenção e combate à prática. Já o economista e diretor da CSF-Brasil, Pedro Gasparinetti, explicou que a mineração ilegal vem crescendo na Amazônia, sobretudo diante do aumento do preço do ouro no mercado internacional, e avança sobre territórios indígenas, o que gera impactos irreversíveis à natureza e à saúde de populações próximas à área de exploração. “Nosso objetivo foi reduzir a arbitrariedade com que os valores indenizatórios são estabelecidos, a partir do uso de critérios transparentes, de forma a oferecer mais robustez ao processo de cálculo das indenizações, para desencorajar a atividade ilegal”, afirmou. 

Para se ter uma ideia dos prejuízos considerados pela calculadora, a extração ilegal de 1kg de ouro no garimpo de aluvião (a mais comum na Amazônia) provoca desmatamento de sete hectares da floresta, destruindo espécies de plantas e animais, prejudicando o ecossistema e retirando de extrativistas oportunidades de renda. O valor dos danos ambientais e sociais causados pela extração ilegal de 1kg de ouro na Amazônia pode chegar a R$ 2 milhões, o que equivale a quase quatro vezes o valor de mercado do mineral. Além destes danos, a ferramenta considera o tempo e recursos necessários para a recuperação da área (cerca de 30 anos) e os benefícios que deixarão de ser usufruídos no período. 

Outro ponto levado em consideração é o assoreamento de rios provocado pela exploração, que prejudica a pesca, o consumo de água potável e o uso recreativo pela população. A contaminação por mercúrio também está entre os fatores considerados no cálculo. “Altamente tóxico, o mercúrio utilizado no garimpo contamina os garimpeiros pelo ar, afeta o solo e a água, além de ser absorvido pelos peixes, que podem migrar e levar a substância para um raio de 3 mil quilômetros. Isso significa que uma pessoa pode ser contaminada mesmo estando bem distante do garimpo”, alerta o diretor da CSF-Brasil. Entre 30% e 72% dos garimpeiros podem apresentar problemas neuropsicológicos futuros, cerca de 50% de crianças que consumirem peixe contaminado podem sofrer retardo mental e 70% da população afetada pode sofrer doenças cardiovasculares. A partir de informações apenas de 2020, a ferramenta calculou que os danos causados pelo garimpo ilegal na terra indígena Yanomami chegaram a quase R$ 600 milhões, e colocou em risco aproximadamente 44 mil pessoas que vivem próximas à região. Já na Bacia do Tapajós, que representa 10% da Amazônia Legal, as extrações irregulares de ouro, apenas no ano passado, colocaram em risco cerca de 15 mil garimpeiros e 370 mil habitantes, representando um dano no valor de R$ 5,4 bilhões. 

O secretário da Sppea, Pablo Barreto, afirma que a calculadora é um grande avanço para a realização de perícias relativas ao tema no MPF. “Teremos um novo paradigma no combate ao garimpo ilegal de ouro na Amazônia. A partir do uso de metodologia científica aliada à tecnologia da informação, ganhamos agilidade e confiabilidade no cálculo do dano socioambiental causado, de forma objetiva e transparente”, ressaltou. Além de auxiliar nos trabalhos do MPF, a ferramenta vai contribuir com a atuação de outras instituições, como a Polícia Federal, o Ibama e o Ministério da Saúde na prevenção, responsabilização e compensação dos danos gerados pelo garimpo ilegal. Segundo Barreto, a ideia do MPF é usar a ferramenta como base para o futuro desenvolvimento de fórmulas capazes de mensurar, em termos financeiros, os danos causados por outras atividades nocivas ao meio ambiente, inclusive, em outros biomas. 

Para acessar. clique em: http://calculadora.conservation-strategy.org/