Estudo propõe GNL para veículos pesados

09/07/2021
Os veículos movidos a gás natural produzem entre 70% e 85% menos poluentes que a gasolina e o diesel.

Segundo estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Imperial College London, no Reino Unido, a substituição completa do diesel usado como combustível nos caminhões de carga pesada por gás natural liquefeito (GNL) salvaria vidas, mas não o suficiente para evitar a maior parte das mortes que hoje se atribui como consequência da poluição do ar. A pesquisa foi publicada na revista Atmospheric Environment, e o estudo indica que o GNL ajuda a reduzir as emissões de material particulado (MP). 

Os pesquisadores, para chegar a essa conclusão, levantaram o fluxo dos caminhões entre São Paulo e Campinas que trafegam pelas rodovias Anhanguera-Bandeirantes e, em seguida, estimaram a emissão de poluentes proveniente dos veículos de carga, analisando a dispersão atmosférica do material particulado, em especial as concentrações de MP10 e MP2,5. Além disso, o estudo levantou estatísticas de mortes por câncer de pulmão e por doenças cardiovasculares e respiratórias em 12 cidades no entorno às rodovias, utilizando o banco de dados do Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil). 

Os pontos de maior concentração de poluentes, segundo o estudo, estão em Jundiaí, próximo à rodovia dos Bandeirantes, e em Cajamar, nas proximidades da rodovia Anhanguera. A menor concentração foi registrada em Campinas, em um local distante de ambas as rodovias. Os veículos movidos a gás natural produzem entre 70% e 85% menos poluentes que a gasolina e o diesel e promovem uma redução de 10% na emissão de gases de efeito estufa (GEE) em comparação com os caminhões a diesel. Portanto, era de se esperar uma correlação entre mortes e poluição do ar. 

A maior surpresa para os pesquisadores ocorreu em relação ao impacto da mudança no combustível. "Achávamos que haveria uma redução maior nas mortes atribuíveis à poluição do ar proveniente dos veículos pesados", afirma Ana Carolina Rodrigueis Teixeira, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, primeira autora do artigo. "No caso de mortes por doenças respiratórias em crianças, por exemplo, não haveria nenhuma redução nos óbitos após a substituição total do diesel por gás natural nos caminhões. Ou seja, precisamos avaliar outras fontes poluidoras, como a dos veículos de passeio e da indústria, para entender melhor como seria o impacto da redução de emissões de poluentes na saúde da população."

Pelos cálculos dos pesquisadores, as mortes anuais por doenças cardiovasculares atribuíveis à poluição atmosférica podem ter uma variação de 8 a 296 óbitos, com uma média aproximada de 188. Para doenças respiratórias em pessoas idosas, a variação é de 52 a 190 mortes e para câncer de pulmão vai de 18 a 62 mortes para o ano de 2016. Com a mudança para GNL se poderia evitar menos de cinco mortes por ano para câncer de pulmão. Com relação às doenças cardiovasculares, o máximo de redução poderia ser de 14 mortes, mas com 90% de chance de menos de cinco mortes serem evitadas. Para as doenças respiratórias em idosos, menos de 10 mortes seriam evitadas por ano. 

A pesquisa foi desenvolvida no âmbito de um projeto do Research Centre for Gas Innovation (RCGI), encerrado em 30 de novembro de 2020, cuja proposta era avaliar a viabilidade de implantação de um Corredor Azul no Estado de São Paulo - conceito que prevê a implantação de uma infraestrutura para o uso do gás natural como combustível em veículos rodoviários. 

Entre os objetivos do projeto, estavam: definição da localização do Corredor Azul; locais e formas de abastecimento; e políticas e estratégias de incentivo para a implementação do Corredor. Foram avaliadas ainda as variações nas emissões de poluentes locais e gases do efeito estufa decorrentes da troca do diesel pelo gás natural liquefeito nos caminhões, além de possíveis impactos na saúde humana. "Consideramos esse estudo um pontapé inicial para a discussão de políticas públicas relacionadas ao tema", afirma ela. "É preciso um esforço não só do lado do setor de transporte de veículos pesados, que às vezes é criticado pelas altas emissões, mas também de outros setores", finaliza. O resumo do artigo "PM emissions from heavy-duty trucks and their impacts on human health" pode ser acessado neste link: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1352231020305483