Primeiro crédito de carbono do Cerrado

05/09/2022
A área certificada tem 11,5 mil hectares e capacidade de emissões médias de 50 mil créditos de carbono por ano.

Por meio da iniciativa Legado Verdes do Cerrado, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e a Reservas Votorantim vão emitir o primeiro crédito de carbono do Cerrado a partir de florestas conservadas. A área da reserva privada de desenvolvimento sustentável, localizada em Niquelândia (GO), propriedade da CBA, será a primeira a integrar o Programa REDD+ Cerrado. 

A área certificada tem 11,5 mil hectares e capacidade de emissões médias de 50 mil créditos de carbono por ano. Na primeira emissão, serão gerados 316 mil créditos de carbono, referentes ao período de 2017 a 2021. “Como líderes, temos a responsabilidade em atuar como agentes da mudança, engajando o mercado e a sociedade na implementação de práticas ESG. Nesse contexto, a iniciativa é alavanca para a conservação da floresta em pé, fomento para o mercado de carbono no Brasil e um caminho para a construção de uma consciência colaborativa em prol do desenvolvimento sustentável”, afirma Ricardo Carvalho, CEO da CBA. 

A iniciativa tem como meta promover a conservação da biodiversidade do Cerrado e conta com o apoio das consultorias ERA (Ecosystem Regeneration Associates) e ECCON Soluções Ambientais no desenvolvimento e implementação do projeto. Além da metodologia inédita e com reconhecimento global, o Programa REDD+ Cerrado tem um componente inovador entre os projetos REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e evitar o desmatamento e conservar áreas florestais. “Após mais de dois anos de estudos, conseguimos adaptar para o Cerrado uma das metodologias mais respeitadas do mundo, que antes só era aplicada na Amazônia. A aprovação do Programa nesse modelo representa um importante passo na consolidação do Brasil no mercado voluntário internacional de carbono”, afirma David Canassa, diretor da Reservas Votorantim. A CBA tem como objetivo reduzir ainda mais suas emissões de CO2 em 40% até 2030.

Os créditos do Cerrado foram auditados e registrados pela plataforma global Verra, que faz a custódia dos créditos. A empresa criou os Verified Carbon Standards (VCS), padrões que são tidos como referência atualmente. A metodologia utilizada (VM0009) é específica para florestas e savanas, aplicada para desmatamento planejado (avoided planned conversion – APD), no contexto do bioma. Para Canassa, a possibilidade de emitir crédito de carbono a partir do Cerrado, vai ajudar grandes empresas em todo o mundo a atingir o objetivo de reduzir suas emissões e alcançar o carbono neutro, como também vai impulsionar um mercado com enorme potencial. “O mercado voluntário é um caminho e o Programa REDD+ Cerrado vem contribuir para sua maturação e no enfrentamento de questões globais tão latentes”, acrescenta. 

O primeiro leilão de créditos de carbono do Cerrado receberá propostas até o final de setembro, com o final previsto para outubro. “Nossa expectativa é alcançar, principalmente, os usuários finais desses créditos. Dessa forma, o preço não será o único critério na escolha das propostas, pois queremos fidelizar empresas que pretendem usá-los em suas estratégias de descarbonização”, destaca João Daniel de Carvalho, diretor de desenvolvimento de negócios da ERA, consultoria voltada para o desenvolvimento de projetos de créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais, responsável pelo leilão dos créditos REDD+ Cerrado. Hannah Gabriela Simmons, CEO e fundadora da ERA, diz que os créditos de carbono gerados vão complementar a produção de grãos e/ou carnes do produtor, ao diversificar a renda e reduzir os riscos de possíveis choques de mercados. “O Cerrado contém a maioria das nascentes das nossas principais bacias hidrográficas. Não cuidar desse bioma e seus excedentes florestais, agora, é contribuir para a desertificação do centro-oeste, norte e nordeste do país”. 

O Legado Verdes do Cerrado compreende um território de aproximadamente 32 mil hectares e cerca de 20% do espaço é destinado à economia tradicional, enquanto os 80% restantes permanecem com cerrado nativo conservado. Desde a sua criação, há cinco anos, são desenvolvidas pesquisas, com resultados importantes para a geração de conhecimento sobre o bioma, projetos sociais, além de atividades da nova economia, como produção de plantas. “Nesse sentido, nosso Programa já se mostra viável porque nossos cobenefícios não são promessas, nós já fazemos e vamos ampliar com a entrada dos recursos dos créditos”, assegura David Canassa. O diretor estima que parte dos recursos serão direcionados ao entorno do Legado, em investimentos em pesquisas científicas, ações para manutenção e conservação da biodiversidade, treinamento e combate a incêndios florestais e programas de incentivos a negócios da nova economia, além do projeto prever a criação de um comitê de gestão do REDD+ Cerrado para acompanhar o planejamento financeiro e monitorar a aplicação dos recursos.