Aumento da temperatura aponta para seca generalizada

05/10/2022
O estudo mostra que mesmo um aumento modesto de temperatura de 1,5°C terá sérias consequências na Índia, China, Etiópia, Gana, Brasil e Egito.

Segundo nova pesquisa da Universidade de East Anglia (UEA), as secas mais frequentes e duradouras causadas pelo aumento das temperaturas globais representam riscos significativos para as pessoas e ecossistemas em todo o mundo. O estudo mostra que mesmo um aumento modesto de temperatura de 1,5°C terá sérias consequências na Índia, China, Etiópia, Gana, Brasil e Egito. Esses seis países foram selecionados para o estudo pelo fato de oferece uma variedade de tamanhos contrastantes e diferentes níveis de desenvolvimento em três continentes que abrangem biomas tropicais e temperados e contêm habitats de florestas, pastagens e desertos.

O trabalho liderado pelo Dr. Jeff Price e seus colegas do Tyndall Center for Climate Change Research da UEA quantificou os impactos projetados de níveis alternativos de aquecimento global sobre a probabilidade e duração de secas severas nos seis países. “As promessas atuais para a mitigação das mudanças climáticas, que ainda devem resultar em níveis de aquecimento global de 3°C ou mais, impactariam todos os países neste estudo”, afirmou Price. O professor disse que, com um aquecimento de 3°C, mais de 50% da área agrícola em cada país está projetada para ser exposta a secas severas com duração superior a um ano em um período de 30 anos. “Usando projeções populacionais padrão, estima-se que 80% a 100% da população no Brasil, China, Egito, Etiópia e Gana (e quase 50% da população da Índia) estejam expostas a uma severa seca com duração de um ano ou mais em um período de 30 anos”.

O estudo mostrou diversos cenários de acordo com o aumento gradual da temperatura mundial. No cenário de aquecimento de 1,5°C, a probabilidade de seca deverá triplicar no Brasil e na China, quase dobrar na Etiópia e Gana, aumentar ligeiramente na Índia e aumentar substancialmente no Egito. Com um aquecimento de 2°C, a probabilidade de seca é projetada para quadruplicar no Brasil e na China; o dobro na Etiópia e Gana; alcançar mais de 90% de probabilidade no Egito; e quase o dobro na Índia. Em um cenário de aquecimento de 3°C, a probabilidade de seca projetada para ocorrer no Brasil e na China é de 30-40%; 20-23% na Etiópia e Gana; 14% na Índia, mas quase 100% no Egito. Finalmente, em um cenário de aquecimento de 4°C, a probabilidade de seca projetada no Brasil e na China é de quase 50%; 27-30% por cento na Etiópia e Gana; quase 20% na Índia; e 100% no Egito.

Na maioria dos países, o aumento projetado na probabilidade de seca aumenta aproximadamente de forma linear com o aumento da temperatura. A exceção é o Egito, onde mesmo pequenas quantidades de aquecimento global potencialmente levam a grandes aumentos na probabilidade de seca. A professora Rachel Warren, líder do estudo geral do qual este artigo é uma saída, disse: “Não apenas a área exposta à seca aumenta com o aquecimento global, mas também aumenta a duração das secas. No Brasil, China, Etiópia e Gana, as secas de mais de dois anos devem ocorrer mesmo em um cenário de aquecimento de 1,5° C”. 

Em um cenário de aquecimento de 2°C, a duração das secas projetadas em todos os países (exceto na Índia) deve exceder três anos. Em um cenário de aquecimento de 3°C, as secas são projetadas para se aproximarem de 4 a 5 anos de duração e em um cenário de aquecimento de 4°C, secas severas de mais de cinco anos são projetadas para o Brasil e a China, com seca severa sendo a nova condição de linha de base. Além disso, espera-se que a porcentagem de terra projetada para ser exposta a uma seca severa de mais de 12 meses em um período de 30 anos aumente rapidamente pelo cenário de aquecimento de 1,5°C no Brasil, China e Egito, e em áreas de neve permanente e gelo na Índia.

A Índia e a China têm grandes áreas atualmente sob cobertura de gelo e neve “permanentes”. No entanto, no cenário de aquecimento de 3°C, projeta-se que 90% dessas áreas enfrentarão secas severas com duração superior a um ano em um período de 30 anos. Essas áreas formam as cabeceiras de muitos dos principais sistemas fluviais e, portanto, o abastecimento de água para milhões de pessoas a jusante. O aumento da probabilidade e duração de secas severas apontam para potenciais declínios no armazenamento de água no Himalaia chinês na forma de neve e gelo.

A seca pode ter grandes impactos na biodiversidade, nos rendimentos agrícolas e nas economias. O estudo indica que os seis países precisarão lidar com o estresse hídrico no setor agrícola, potencialmente por meio da mudança de variedades de culturas ou por meio de irrigação, se houver água disponível. A quantidade de adaptação necessária para lidar com esse aumento na seca, portanto, cresce rapidamente com o aquecimento global. As áreas urbanas se saem um pouco melhor e geralmente mostram o mesmo padrão acima. Áreas ao longo de rios e córregos ou com reservatórios podem se sair melhor, dependendo da competição por recursos hídricos e nascentes.

O professor Warren disse: “O cumprimento dos Acordos de Paris pode ter grandes benefícios em termos de redução do risco de seca severa nesses seis países, em todas as principais classes de cobertura da terra e para grandes porcentagens da população em todo o mundo. Isso requer uma ação urgente em escala global agora para interromper o desmatamento (inclusive na Amazônia) nesta década e descarbonizar o sistema de energia nesta década, para que possamos atingir emissões líquidas globais de gases de efeito estufa zero até 2050”.