Projeto quer verificar como estoque de carbono

23/11/2021
Um dos objetivos do trabalho é medir o potencial de contribuição do reflorestamento à captura e redução de gases de efeito estufa.

Na COP26, um dos assuntos debatidos para contribuir na mitigação das mudanças climáticas foi a conservação dos manguezais da Amazônia. A zona costeira do Pará, Amapá e Maranhão, além de englobar a maior faixa contínua de manguezais do mundo, possui mais de oito mil km de extensão, cerca de 80% dos existentes em todo o litoral brasileiro. O diferencial é que, na Região Amazônica, esse ecossistema encontra-se em bom estado de conservação, comparando-se aos manguezais do Nordeste e Sudeste. Apesar do desmatamento da Floresta Amazônica em terra firme, os manguezais têm sido mantidos em conjunto com as riquezas da biodiversidade que ajudam a garantir renda, segurança alimentar e qualidade de vida das comunidades – e a contribuir no equilíbrio do clima. “O potencial climático se soma à conservação de recursos importantes ao desenvolvimento local e ao futuro das próximas gerações que habitam as áreas de manguezais”, afirma Marcus Fernandes, coordenador do Laboratório de Ecologia de Manguezal (LAMA), da Universidade Federal do Pará (UFPA) – instituição parceira do projeto Mangues da Amazônia, patrocinado pela Petrobras e realizado pelo Instituto Peabiru e Associação Sarambuí.

O plano é reflorestar 12 hectares em dois anos, distribuídos em áreas já impactadas em três reservas extrativistas dos municípios de Augusto Corrêa, Bragança e Tracuateua (PA), mobilizando direta e indiretamente cerca de 7,6 mil pessoas. Além do plantio de mudas e atividades socioambientais de educação, empoderamento social e organização comunitária, o projeto desenvolve estudos para práticas sustentáveis de manejo do caranguejo-uçá e outros recursos naturais, bem como para o conhecimento sobre a relação entre os manguezais amazônicos e a mudança climática. “Queremos entender mais a fundo o papel da conservação desses ecossistemas no estoque de carbono e na redução de emissões para atmosfera”, explica Fernandes.

Um dos objetivos do trabalho é medir o potencial de contribuição do reflorestamento à captura e redução de gases de efeito estufa, com base em padrões científicos, comparando áreas conservadas com as que se encontram degradadas e com as de florestas de mangue-anão nativas, que são mais abertas e menores, além das áreas impactadas por atividades antrópicas, como a construção de estradas. “Muito se fala sobre os manguezais pela proteção natural das zonas costeiras contra a elevação do nível do mar, mas eles sofrem riscos e estão entre os principais prejudicados pelos impactos da mudança climática”, ressalta o biólogo Hudson Silva, pesquisador do LAMA ligado ao trabalho que compara as áreas em diferentes estágios de conservação. 

A meta é expandir o levantamento das emissões de metano e dióxido de carbono nos manguezais de reservas extrativistas, com o objetivo de realizar monitoramento de alterações no solo devido a mudanças no padrão de chuvas e do nível do mar, por exemplo. Segundo Silva, os mangues emitem menos carbono por conta da interação química com a água do mar, no vaivém das marés. “Como os manguezais seguram grande quantidade de carbono, a consequência dos impactos da ação humana – principalmente nas áreas mais secas – é de uma rápida emissão para a atmosfera”, aponta o pesquisador. Ele lembra que o caranguejo participa do processo de decomposição ao se alimentar das plantas, e a redução da espécie pela captura não sustentável “dificulta o papel do manguezal como sumidouro de carbono”.

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