MATA ATLÂNTICA

Nova crise hídrica pode acontecer

14/09/2018
O coordenador técnico do programa Águas da Mantiqueira, José Roberto Manna, disse que os estados do Sudeste – onde fica uma parte da Mata Atlântica – podem vir a sofrer novamente uma crise hídrica (como a de 2014/15) por conta do desmatamento de áreas naturais. “O topo de morro é a caixa da água. A vegetação natural funciona como uma embalagem e é um dos pontos que a água da chuva penetra com mais facilidade no solo. Isto é que mantém os lençóis freáticos, que por sua vez, formam nascentes e rios. É fundamental preservar os topos de morro que comumente chamamos de áreas de recarga”, reforça o consultor técnico da Fundepag (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa do Agronegócio). 
 
Manna comenta ainda ser necessário um equilíbrio entre a demanda e a oferta de água, por meio de uma combinação de obras de engenharia verde para o fornecimento do insumo, despoluição das bacias hidrográficas e redução das perdas físicas no sistema de água de Santo Antônio do Pinhal (SP). Estas chegam a mais de 40%, aliadas a alternativas não menos importantes, as Soluções baseadas na Natureza (SbN). “É necessária uma infraestrutura adequada para as cidades serem abastecidas devidamente. Mas especialistas têm concordado que as Soluções baseadas na Natureza são extremamente efetivas para lidar com problemas urgentes, além de ser o caminho do desenvolvimento econômico compatível com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS, estabelecidos pela ONU”. Essas e outras diretrizes fazem parte do Projeto Águas da Mantiqueira, iniciativa realizada pela Fundação Toyota do Brasil em parceria com a Fundepag. 
 
A ação realizada em Santo Antônio do Pinhal resultou em um estudo, entregue ao poder público no fim de agosto. Após 15 meses de trabalho de 30 pesquisadores, foram avaliadas características de cada uma das 10 bacias hidrográficas da região, sua flora, fauna, construções em área urbanas e rurais, situação de esgotamento sanitário, educação, entre outros temas. Os direcionamentos poderão ser utilizados pela prefeitura para elaborar um planejamento territorial do município que seja compatível com o desenvolvimento socioeconômico sem descartar o impacto no meio ambiente, que oferece uma série de serviços aos seres humanos. 
 
O presidente da Fundação Toyota do Brasil, Percival Maiante, afirma que a educação é um dos principais meios para reverter a situação. “O objetivo de construir um planeta realmente mais sustentável, por necessidade, passa por investimentos em educação para a sustentabilidade. É nisso que todos devemos focar se nos interessarmos pelo futuro das próximas gerações”, relata Maiante. 
 
Atualmente a concessionária que opera em Santo Antônio do Pinhal coleta apenas 45% de todo esgoto produzido na área urbana e, embora o tratamento seja de 100% do esgoto coletado, a eficiência desse tratamento é de 55%. Isso significa que mais da metade dos esgotos tem sido despejada sem tratamento no Rio da Prata, comprometendo a qualidade dos recursos hídricos e o equilíbrio do ecossistema aquático como reportado nos últimos relatórios elaborados pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). O projeto ressalta a importância de coletar 100% do esgoto gerado nas áreas urbanas, e tratá-lo com a eficiência de no mínimo 80%, conforme legislação.
 
O projeto prevê instalação de esgotamento sanitário e fossas sépticas em residências localizadas nas áreas urbanas e rurais que não possam ser atendidas pela rede coletora de esgotos. A medida é indicada especialmente para zona rural ou residências isoladas -, para evitar a contaminação das águas superficiais e subterrâneas e a disseminação de doenças de veiculação hídrica. Para reduzir o índice de perdas de água em Santo Antônio do Pinhal são necessárias a implantação e a efetiva execução, por parte da empresa responsável pelo abastecimento do município, de um programa contínuo de monitoramento e de combate a perdas no sistema de distribuição de água tratada. Outro direcionamento do projeto Águas da Mantiqueira é a aprovação de Lei Municipal que institua uma política de proteção aos mananciais de água destinados ao abastecimento público. 
 
Do ponto de vista dos recursos hídricos, os proprietários rurais devem ser incentivados a proteger os remanescentes de vegetação natural presentes em suas propriedades e, na ausência das matas ciliares ao redor de rios, riachos e nascentes, que os proprietários sejam motivados a restaurá-las.