Doenças de veiculação hídrica atingem milhares de pessoas

09/10/2021
O número de internações por doenças de veiculação hídrica somou 273.403 em 2019, um aumento de 30 mil casos.

O Instituto Trata Brasil divulgou o estudo “Saneamento e Doenças de Veiculação Hídrica” – ano base 2019, a partir de dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e o DATASUS, portal do Ministério da Saúde. O número de internações por doenças de veiculação hídrica somou 273.403 em 2019, um aumento de 30 mil casos em relação ao ano anterior. 

A maior parte das internações por doenças foi provocada pela falta de saneamento básico, sendo que a região Norte é a que tem infraestrutura mais precária, já que apenas 12% da população possui coleta de esgotos. Na região foram 42,3 mil internações por doenças de veiculação hídrica. Em seguida, veio o Nordeste, onde somente 28% da população possui coleta de esgotos, e onde ocorreu o maior número de hospitalizações - 113,7 mil em 2019, seguido pelo Sul, com 46,3% da população com acesso à coleta dos esgotos e 47% do esgoto coletado tratado. 

Acima dos 50%, o Centro-Oeste tem 57,7% da população com coleta dos esgotos e 56,8% de tratamento do volume esgoto coletado. Já o Sudeste tem os melhores indicadores, com 79,2% da população com coleta de esgotos, porém com apenas 55,5% do esgoto gerado sendo tratado e 61,7 mil internações. O Sudeste apresenta números de internação maiores que o Norte, porém possui sete vezes mais habitantes. Quando comparados os casos por 10 mil habitantes, forma mais correta, vê-se que os estados do Norte e Nordeste concentram os maiores problemas. 

Em 2019, as mais de 273 mil hospitalizações decorrentes das internações por doenças de veiculação hídrica resultaram num custo de R$ 108 milhões. A região Nordeste apresenta a maior despesa com internações por doenças de veiculação hídrica: R$ 42,9 milhões - vale ressaltar que em números gerais, o Nordeste também registrou mais internações. Logo em seguida, o Sudeste apresenta R$ 27,8 milhões com gastos, contra R$ 15,2 milhões do Norte, R$ 11,7 milhões do Sul e R$ 10,2 milhões do Centro-Oeste. A falta de acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário resultaram em 2.734 óbitos em 2019, uma média de 7,4 mortes por dia de pessoas. No Nordeste, os óbitos ultrapassam mil casos, no Sudeste, 907 mortes registradas. O Norte registrou 214 casos.

Entre 2010 e 2019, o Brasil registrou queda com relação às internações por doenças de veiculação hídrica, de 603,6 mil para 273,4 mil internações no período, no entanto, houve um acréscimo de quase 30 mil internações de 2018 para 2019. Em números absolutos, o Amapá aparece como a estado com menos internações por doenças de veiculação hídrica em 2019, com 861, contra 38,2 mil no Maranhão. Ambos possuem indicadores de saneamento abaixo da média, mas há uma grande diferença no tamanho das populações e que precisa ser considerada quando falamos de números totais. Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Pará ultrapassam a marca de 20 mil internações gerais por doenças de veiculação hídrica.

Relacionando saneamento e doenças em 2020, dados preliminares mostram que o país teve 174 mil internações por doenças de veiculação hídrica (diarreicas, dengue, leptospirose, esquistossomose e malária), o que representaria redução de 35% na comparação com o ano anterior, Mas os dados precisam ser analisados pelas instituições médicas, pois a queda pode estar relacionada ao afastamento das pessoas dos hospitais por medo de contaminação da COVID-19. Os óbitos em 2020 estão estimados em 1,9 mil, o que também seria uma redução entre 30 e 35% comparativamente ao ano anterior. "Os dados deixam claro que qualquer melhoria no acesso da população à água potável, coleta e tratamento dos esgotos traz grandes ganhos à saúde pública. Por outro lado, o não avanço faz perpetuar essas doenças e mortes de brasileiros por não contar com a infraestrutura mais elementar. São hospitalizações com ocupação de leitos que poderiam estar sendo destinados a doenças mais complexas. É essencial que o Brasil resolva definitivamente isso, pelo bem do país e seus cidadãos", afirma o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos.