Partidos contra prorrogação de subsídios

22/03/2022
Para André Maimoni, assessor jurídico do PSOL, o setor de geração de energia no país não pode mais se basear em medidas ecologicamente injustificáveis.

Os partidos Rede, PSOL e PSB entraram com Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal (STF) contestando a Lei Nº 14.299, promulgada em 5 de janeiro deste ano, que prorroga até 2040 os subsídios ao carvão mineral para a geração de energia elétrica em Santa Catarina, o que beneficia o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, conjunto de usinas na cidade de Capivari de Baixo. 

Na ação, os três partidos defendem que, ao estender o financiamento público ao mais poluente dos combustíveis fósseis, a legislação distorce o conceito de "Transição Energética Justa", determinando, explicitamente, o não abatimento de carbono, o que contribui para a continuidade da emissão em grande volume de gases de efeito estufa. A ação tem apoio do Observatório do Clima (OC) e do Observatório do Carvão Mineral e o Instituto Arayara entrou como “amicus curiae” dos partidos no STF. “Precisamos de uma transição energética justa que considere todo conjunto da sociedade, diversas formas de geração de energia e não manter o subsídio para o carvão continuar comprometendo a nossa sustentabilidade, prejudicando a saúde da nossa população e transformando o nosso país num pária internacional”, afirma o presidente do PSB, Carlos Siqueira. Para André Maimoni, assessor jurídico do PSOL, o setor de geração de energia no país não pode mais se basear em medidas ecologicamente injustificáveis, que degradam o meio ambiente e que prejudicam a saúde das populações. 

“A decisão de prorrogar até pelo menos 2040 a utilização do carvão e de termelétricas é mais uma prova de que o Governo Federal institucionalizou uma política socioambiental catastrófica e é cúmplice das mudanças climáticas. No lugar de pensar uma estratégia de transição energética justa, que foque na capacitação de pessoas e geração de empregos por meio de fontes sustentáveis de energia, a política adotada insiste em uma tecnologia obsoleta, que conhecidamente causa inúmeros prejuízos aos consumidores, ao meio ambiente e à saúde pública”, aponta Wesley Diogenes, porta voz da Rede Sustentabilidade. A extração e a queima de carvão contaminam o solo, o ar e a água com substâncias tóxicas, acarretando prejuízos à saúde pública. A situação se agrava pelo fato de o carvão catarinense ser de baixa qualidade, com alto teor de cinzas poluentes para produzir pouca quantidade de calor. “O complexo Jorge Lacerda, que tem oito termelétricas, torna Capivari de Baixo, um município de apenas 25 mil habitantes, o maior emissor de gases de efeito estufa por metro quadrado do Brasil”, afirmam.

A ação questiona ainda a ineficiência do subsídio ao carvão ao longo do tempo. De acordo com análise feita pelo Tribunal de Contas da União em 2019, o incentivo vai em sentido contrário à tendência de abandono da matriz energética fóssil, criando uma grande distorção na concorrência do setor energético, além de ter sérios problemas de transparência. A prorrogação de autorização e a garantia de contratação direta de energia elétrica gerada pelo Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, na modalidade de energia de reserva, viola também o princípio da impessoalidade, disposto na Constituição Federal.

Segundo os partidos, os termos do Conselho de Transição Energética Justa - criado pela nova lei - desrespeitaram também o princípio orçamentário, pois o texto não prevê de onde sairá o recurso para cobrir as despesas com a sua criação, estruturação e manutenção, constituindo aumento de despesa. Para eles, a composição do conselho dá espaço apenas para representantes da cadeia do carvão, o que vai contra os princípios da democracia participativa e da igualdade, previstos na Constituição. “Essa lei traz uma série de retrocessos do ponto de vista climático e ambiental e põe o Brasil no sentido oposto ao do Acordo de Paris. O mundo inteiro está discutindo o fim do carvão mineral e vários países querem enterrar essa fonte em 2040. O Brasil, que não precisa de carvão, está dando uma sobrevida inexplicável a esse combustível, daí a impugnação da nova lei”, diz Nauê Pinheiro de Azevedo, assessor jurídico do Observatório do Clima.